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A realidade das escolas brasileiras e, por que não dizer, das salas de aula ao redor do mundo, é decrescente conexão. A última pesquisa TIC Kids On-line Brasil, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), evidencia que mais de 70% das escolas do país possuem computadores conectados à internet acessíveis aos alunos. Contudo, é possível que você conheça uma escola em que não haja nenhum tipo de infraestrutura que permita conexão à rede internet. Sendo assim, somos tentados a concluir que nessa escola desprovida de “wi-fi” ou “cabos de rede” há ausência de conexão.

Esse cenário aponta para alguns elementos que merecem ser analisados, dentre eles, as conexões entre pessoas que se estabelecem nos contextos escolares, subsidiadas ou não pela infraestrutura de rede internet.

Possivelmente em decorrência da disciplinaridade vigente em nosso sistema educacional, é comum a organização dos professores de uma determinada unidade escolar ser em “grupos por área do conhecimento”. Assim, os professores de humanas tendem a propor projetos e manter-se mais próximos dos colegas que compartilham de formação acadêmica similar, os de matemática e ciências da natureza fazem o mesmo.

No entanto, as tratativas pedagógicas mobilizam esses profissionais para que atuem de forma conjunta ou interdisciplinar em atividades na sala de aula ou projetos de maior escala. No caso da Educação, em que há um foco na formação integral do ser humano, as aproximações entre professores de áreas distintas são uma demanda constante, alvo de uma série de projetos integradores.

Nesse contexto, são constituídas pequenas redes em que indivíduos diferentes, com áreas de atuação profissional muito peculiares, operam com propósitos semelhantes e compartilham conhecimentos. A partir daí uma série de conexões entre pessoas é estabelecida; os vínculos que passam a ser cultivados, em geral, extrapolam o universo profissional, levando aos mais diversos desfechos – desde projetos acadêmicos muito bem-sucedidos até decisões que transcendem o plano material e transformam a vida espiritual.

Tal ambiente de partilha e crescimento é muito caro à Educação, em que não somente os alunos são convidados a imergir em uma vivência integradora, mas também os profissionais que se dedicam a essa obra. Em nossos dias, as redes digitais fomentam experiências de integração. Na vivência escolar, podem ser úteis justamente por favorecer aproximações que, em certa medida, ultrapassam os limites do tempo–espaço linear.

Iniciamos a análise destacando as redes de pessoas construídas em ambientes como os das nossas unidades educacionais. A partir daí, tratamos das aproximações humanas efetivas e potenciais por meio das redes digitais. Tal abordagem intencionalmente destaca nossa percepção a respeito dos recursos, que precisam estar a serviço de nossas reais necessidades (profissionais, pessoais, etc.), evitando-se o contrário.

Aparelhos móveis de comunicação (celulares, tablets, netbooks, equipamentos eletrônicos), lousas digitais, televisores multifuncionais, projetores multimídia e computadores com acesso à internet são elementos indispensáveis à cultura que tecemos e que se reelabora desde que o homem passou a se relacionar mais estreitamente com as tecnologias de base microeletrônica (a cibercultura).

Autores como Lévy (1999) e Pretto e Silveira (2008) concordam que a cultura contemporânea estruturada pelo uso de tecnologias digitais em rede ressignifica as interações que o homem estabelece com seus pares. Para eles, a partir disso são ressignificadas também as relações dos indivíduos com a própria produção dos conhecimentos, conceitos, valores e saberes.

Um dado visível da manifestação desse fenômeno, que alguns pesquisadores preferem designar como cultura digital, diz respeito à inserção nos espaços escolares de todo o aparato tecnológico próprio desse tempo. Eles chegam às salas de aula trazidos pelos alunos que os utilizam das mais diversas maneiras, não dispondo necessariamente do consentimento de seus professores.

Por sua vez, os professores não se encontram à margem do processo, pois têm esses dispositivos consigo e fazem uso deles. Não há como deixar de mencionar a existência de uma utilização diferenciada entre os dois grupos, seja por conta das faixas etárias ou em decorrência de interesses particulares distintos.

Ainda que nos voltemos especificamente para os cotidianos escolares, é impossível deixar de mencionar a presença quase ubíqua dessas tecnologias e de seus modos de operação nas diversas esferas da vida, desde as atividades mais simples, como atravessar a rua no semáforo, pedir um táxi, fazer compras, até as mais complexas, como as que envolvem a manutenção da vida – telecirurgias e cirurgias guiadas por robôs, mapeamento genético, etc.

Uma vez que podemos constatar que as redes de pessoas são estabelecidas e organizadas, muitas vezes de forma autônoma, dentro dos ambientes de trabalho; que percebemos as várias aplicações das tecnologias digitais ao nosso cotidiano, na vida particular, poderíamos concluir que há um entrelaçamento dessas duas esferas, profissional e pessoal, no que diz respeito à exploração das potencialidades comunicativas desenvolvidas no âmbito da chamada cultura digital.

No entanto, nossa experiência de formação junto aos professores tem revelado que precisamos envidar mais esforços para compreender os motivos que levam muitos de nós a adotar as tecnologias digitais enquanto parceiras no plano pessoal/privado e não fazê-lo, ao menos intensamente, nas demandas da atividade profissional. Reconhecemos que alguns possíveis entraves estejam na falta de conhecimento prático de como “atualizar” a atividade profissional que vem sendo desenvolvida com êxito por tantos anos. Outro dado que pode nos ajudar diz respeito à disponibilidade dos recursos digitais nos ambientes pedagógicos, que, em algumas situações, são insuficientes ou inadequados para as finalidades planejadas.

É indispensável mencionar que estamos nos primórdios dessa “virada tecnológica”, em um momento que pode ser designado como interstício entre o modo de operação analógico e o digital. Sendo assim, tanto as instituições quanto as pessoas de modo geral estão navegando por entre os meandros do ciberespaço na tentativa de encontrar bases mais consistentes com as quais possam operar.

O desafio de perceber a indispensabilidade de conexão, mesmo na ausência de cabos e infraestruturas de rede, é a questão da ordem do dia para a maioria de nós. Isso sugere que sejamos capazes de desenvolver um outro modo de compreender os fenômenos emergentes em nossas salas de aula, já que estamos conectados à rede mesmo que não haja nenhum sinal de wi-fi, conexão 3G ou cabeada. Como isso é possível? A rede está entre nós, permeando nosso modo de ver e agir, conformando nossas iniciativas, influenciando na maneira que registramos ou guardamos os flashes do cotidiano. Estamos nela enredados e colaboramos para tecê-la diariamente.

Dessa maneira, entendemos que é primordial investir nas redes de pessoas, articulando-as por meio dos recursos digitais de comunicação aos quais temos acesso. Essa postura potencializa nossos ganhos nas experiências formativas que desenvolvemos. Parte da expertise nós possuímos, o que viabiliza os caminhos para alcançarmos êxito diante dos desafios socialmente estabelecidos.

 

 

 

Referências
<http://cetic.br/tics/kidsonline/2013/criancas/>. Acesso em: 14 fev. 2017.
<http://noticias.adventistas.org/pt/noticia/educacao/alunos-do-colegio-adventista-sao-medalhistas-em-competicao-internacional-dematematica/>.Acesso em: 14 fev. 2017.
<http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2016/09/21/interna_gerais,806170/fundacao-apresenta-robo-que-pode-fazer-cirurgias.shtml>. Acesso em: 14 fev. 2017.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
PRETTO, Nelson; SILVEIRA, Sérgio Amadeu. (Org.). Além das redes de colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: EDUFBA, 2008.
Fonte: Revista CPB Educacional – 2º semestre 2016.
Imagem: Zagandesign / Fotolia