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A psicopedagoga Maria Irene Maluf orienta como lidar com a educação das crianças em um mundo cada vez mais tecnológico, onde a rápida velocidade das novidades e das informações convive com a ausência de normas.

A tecnologia nos permite visitar o Museu do Louvre, na França, e outros lugares distantes, propicia enorme quantidade de informações de maneira ágil e desenvolve a coordenação motora. Se for bem orientado, o uso do computador e de dispositivos móveis traz muitos benefícios para a aprendizagem das crianças, mas desde que os pais também estimulem o uso didático. No entanto, com o contato cada vez mais precoce com a tecnologia, os pequenos têm de estabelecer relações entre o real, o irreal e o virtual. E, muitas vezes, eles se confundem. Por isso, os pais precisam vigiar o conteúdo e ajudar a tornar essa relação menos obscura.

Quanto tempo a criança pode ficar no computador?

Não existe tempo recomendado, é questão de orientação, porque hoje as crianças usam muito o equipamento para estudar. Estipular horas gera a vontade de driblar regras, Existe o tempo de brincar, o de estudar e o de escolher o que fazer. Nas horas vagas e depois das orientações, a própria criança pode estabelecer as suas prioridades.

Como dar limites, tanto de tempo quanto de conteúdo?

Só se estabelece limites por meio de acompanhamento. Os pais precisam saber o que a criança faz no computador, no celular e o motivo de disponibilizarem esse tempo. Até os 12, 13 anos, a criança tem duas “funções” principais, a de estudar e a de brincar. O brincar deve envolver contato e brincadeiras físicas. A partir disso, os pais conseguem avaliar não só o tempo que a criança passa no computador, mas a qualidade do tempo que passa fora dele. Com o contato cada vez mais precoce com a tecnologia, as crianças têm de estabelecer o que é real, irreal e virtual. E, muitas vezes, elas se confundem com esses conceitos. É por isso que os pais precisam vigiar o conteúdo.

Quais as orientações em relação à exposição na rede?

Com a facilidade de cadastramento em redes sociais e em salas de bate-papo, os pais podem perder o controle de quem é o interlocutor. Saber com quem o filho fala é fundamental, mas não se controla isso facilmente. Por isso, as orientações são as mesmas que regem qualquer relação: o cuidado e o respeito. O “outro” é virtual, mas também real.

Como os pais podem monitorar e fiscalizar o conteúdo?

Os pais devem ter as senhas de crianças menores, explicando que monitorar sozinho um site é uma questão de responsabilidade e uma conquista que vem com a idade. Não só como uma questão de autoridade, mas como uma ferramenta para a educação e o esclarecimento de certas fronteiras, muitas vezes obscuras até para os adultos.

Onde deixar o equipamento?

O ideal é que o computador fique sempre em um local comum, como a sala. Muitos acham feio, mas é uma medida necessária para que os pais percebam o que os filhos estão fazendo.

Quando dar um celular?

A partir dos 6 anos, quando a criança começa a sair com parentes, amiguinhos e a conquistar um pouco da sua independência em relação aos pais. Os modelos devem ser os menos tecnológicos: ter os serviços de um telefone, isto é, fazer e receber ligações e mandar SMS. E serem pré-pagos para controlar, observar o uso e educar a criança financeiramente. Os smartphones foram feitos para adultos – quando os filhos quiserem jogar, os pais podem emprestar os seus. Até porque os pais devem refletir sobre a responsabilidade de entregar um celular desse tipo a uma criança.

Como os pais podem educar as crianças para uma melhor etiqueta digital se muitas vezes eles próprios não respeitam certas condutas, como usar dispositivos móveis ao volante, no jantar ou no cinema?

Os pais se esquecem de que educação é feita de exemplos. Não só pelo modelo, mas pelo reforço do modelo. Como a “dependência” dos meios eletrônicos é recente, os pais também precisam de um norte. Com o deslumbramento em relação à tecnologia, perdeu-se também a noção de funcionalidade e de antigas regras. Criou-se uma geração de compulsivos, na qual os valores e os deveres são desrespeitados. Nesse caso, é preciso criar normas para o uso da tecnologia a partir da necessidade. Isto é, educar primeiramente os pais para que eles possam ensinar os filhos: “Será que eu preciso? É urgente? Para que serve isso? Estou fazendo uso correto?”. Quando entregamos um celular para um filho, devemos explicar para que esse aparelho serve, quando e como usá-lo – principalmente na infância e adolescência, quando os valores ainda se misturam.

Como o abuso dos dispositivos móveis pode atrapalhar a vida familiar?

Como tudo, a tecnologia precisa ser regida por normas. Qualquer plataforma – celular, computador, tablet – necessita de uma linha de ação e valores para que seu uso respeite valores e deveres do meio social. Como uma geração compulsiva, que almeja o modelo mais recente para estar sempre disponível, estabeleceu-se a ideia de que “tudo é pra já”. Ao aplicar esse pensamento na educação das crianças, observa-se uma “algema virtual”, porque os pais dão esses equipamentos às crianças também com uma forma de compensar o tempo perdido juntos, por medo de elas se sentirem inferiores em relação aos colegas. Com o passar do tempo, esses objetos se tornam algemas, especialmente quando as crianças não atendem e os pais dão bronca. É também uma forma de controle. Se existissem normas mais claras, elas poderiam servir também como uma forma de educação.

 

Maria Irene Maluf é especialista em psicopedagogia e em educação especial, coordenadora/SP do Curso de Especialização em Neuropedagogia do Instituto SaberCultura (www.neuropedagogia.com.br)
Fonte: Revista Nestlé Com Você – Março de 2012 / p. 32 e 33