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Embora seja perfeitamente compreensível o desejo e a exigência dos pais por um boletim espetacular, estudar deve ser um ato e um hábito capaz de fazer muito mais que isso. A demanda da sociedade atual, em constante transformação, exige que o profissional continue aprendendo e se reinventando a cada dia. Tanto no aspecto de atualização tecnológica quanto as mudanças nas necessidades do mercado requerem um profissional sempre disposto a se aperfeiçoar, lançando mão da instrução ou do autodidatismo.

No entanto, aprender a aprender, mais do que um jargão já bastante desgastado pelo mau uso, deve ser para quem almeja o sucesso, uma prioridade. Visto sob essa perspectiva, o estudo ganha um novo significado. Depender apenas do que o outro ensina é uma atitude muito comum em nossa cultura, porém não a mais apropriada para quem deseja se destacar.

Por isso, embora o ensino e a instrução ministrados pela escola tenham caráter coletivo, a aprendizagem tem uma conotação individual. Cada criança pode, com o auxílio e o envolvimento dos pais, ser motivada a desenvolver seu potencial máximo. Cada mente funciona de maneira diferente, possuindo suas especialidades e fragilidades e, por esse motivo, devem ser orientadas, de acordo com o próprio perfil, a desenvolver as ferramentas cognitivas que lhe são mais difíceis e utilizar seus pontos fortes para adquirir os conhecimentos necessários (FONSECA, 2009).

Devido às características individuais de cada mente, ao contrário do que se pensa, os pais, e não os professores são os maiores responsáveis pelo sucesso acadêmico das crianças. Esse fato, confirmado por pesquisas (IOCHPE, 2011), ocorre porque apesar do preparo profissional para lidar com crianças de diferentes faixas etárias e diversificar sua metodologia de acordo com os conteúdos propostos, os professores são responsáveis por apenas uma parte do processo de aprendizagem – o ensino. Grande parte do resultado acadêmico deve-se a outro ingrediente, outra parte do processo, ainda mais importante e que dependente unicamente do estudante e, nos primeiros anos, devido à necessidade de desenvolvimento da autonomia, da família: o estudo. Esse ato, que exige esforço e dedicação, deve ocorrer em casa, orientado de acordo com as características de cada criança e seu perfil cognitivo.

Essa ideia poderia ser considerada uma defesa ou omissão de responsabilidade por parte de professores, não fosse apoiada por especialistas em aprendizagem, apoiados nos resultados obtidos em países nos quais a educação coleciona sucessos. Melvin Levine (2003), pediatra e fundador de uma organização que ensina professores e pais a desenvolver plenamente o potencial cognitivo das crianças, conhecido também por sua relevante contribuição para o sucesso acadêmico de estudantes com dificuldades de aprendizagem, afirma que “as escolas deveriam assumir a responsabilidade de ensinar as crianças como aprender, e os pais precisam assumir o compromisso de ensinar seus filhos a trabalhar. A ética poderosa do trabalho deve permear o lar. O dever de casa e os estudos representam oportunidades de ouro para desenvolver as aptidões de uma criança. Os pais devem promover atividades cerebrais pelo menos cinco vezes por semana. Devem ajudar seus filhos a entender que para manter a mente em forma – ambos precisam de exercícios diários. Os pais não devem abrir mão de suas brincadeiras, mas levar a sério o frequentemente negligenciado papel de mestre” (p. 294).

No mesmo tom, Castro (2011) compara a cultura chinesa e a cultura judaica que exigem, por vias diferentes, a disciplina e a chantagem como bons resultados acadêmicos para seus filhos, e desfrutam de todos os benefícios decorrentes. Consequentemente observa-se a disparidade cultural e de resultados observada na sociedade brasileira. Segundo o autor, “o problema com nossas famílias é que não usamos nem um nem outro método. Será por isso que o esforço é tão pouco e os resultados tão parcos?” Seus comentários seguintes referem-se à observação de que existe uma enorme diferença entre as horas dedicadas a aulas e atividades curriculares no Brasil e na China, bem como na dedicação e participação dos pais na vida estudantil.

Contudo, o que fazer? Não basta a crítica à situação atual. Para os pais que compreendem a importância do estudo, Levine (2003) deixa sugestões úteis, resumidas nos tópicos a seguir:

  • Demonstre grande interesse no aprendizado da criança. Converse sobre assuntos escolares, peça que a criança explique o que viu na escola e relacione esses temas com o conteúdo visto em programas instrutivos de televisão. Além de motivar a criança, o interesse em aprender e discutir revelado para os pais serve como exemplo, que é o agente educativo mais eficaz.
  • Limite as atividades passivas. A televisão apresenta, na maioria dos programas assistidos pelas crianças, muito entretenimento e pouco conhecimento. O controle remoto deve funcionar de acordo com a responsabilidade dos pais, e não de acordo com a vontade dos filhos.
  • Leia jornais, revistas, livros, etc. Demonstre que não sabe tudo e que continua tendo interesse em aprender.
  • Não sobrecarregue a agenda. Crianças precisam sim, de tempo livre para exercitar a imaginação, a criatividade e brincar livremente. Não há passividade intelectual em brincar com carrinhos e bonecas, em imaginar situações e diálogos para esses personagens. E sim, em se esticar no sofá para assistir a programas repetitivos, de vocabulário pobre, que prejudicam o processamento da linguagem e o pensamento superior.
  • Recompense a produtividade, independente do resultado. Muitas crianças demonstram esforço, porém, apresentam dificuldades escolares gerais ou em áreas de conhecimento específicas, nas quais não conseguem notas proporcionais aos seus esforços. Nesse caso, o trabalho deve ser reconhecido, independente de seus resultados.
  • O reconhecimento dos pais desperta o desejo de se esforçar para manter a expectativa.

 

Como pais, podemos escolher o caminho que desejamos seguir: o conformismo e a atribuição exclusiva do sucesso aos esforços da escola que, por sua insuficiência, produzem os lamentáveis resultados obtidos pela educação brasileira até o momento; ou o envolvimento que promove desenvolvimento e progresso, a exemplo de países bem sucedidos.

 

Imagens: Sunny Studio / Fotolia
Referências
CASTRO, Cláudio de Moura. Mãe chinesa ou mãe judia? Revista Veja, ed. 2211, nº 14.  06 de abril de 2011. São Paulo: Abril.
FONSECA, Vitor da. Cognição, neuropsicologia e aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica.  4ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
IOSCHPE, Gustavo. Como os pais podem ajudar na aprendizagem. Portal Educar para crescer. Disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/como-pais-podem-ajudar-na-aprendizagem-619108.shtml . Acesso em 26/07/2011.
LEVINE, Mel. Educação individualizada: motivação e desenvolvimento sob medida para seu filho. Rio de Janeiro, Campus, 2003.