As pesquisas nos confirmam, em geral, o que queremos previamente saber, porque filtramos as que estão mais de acordo com a visão de mundo que construímos até hoje. Quem é contra a tecnologia, superdimensiona os problemas que ela traz, como a dependência, a alienação, a superficialidade na navegação, a desigualdade no acesso. Quem é a favor, destaca o impacto positivo dos tablets, dos novos aplicativos, dos cursos massivos online, dos projetos colaborativos, das políticas públicas ou de cada organização.
Predomina hoje na literatura sobre tecnologia na educação um senso de urgência por mudanças, uma percepção de inadequação na organização formal por disciplinas e aulas centradas no professor, uma divulgação forte de metodologias ativas centradas no aluno, de materiais roteirizados como jogos, de aulas invertidas (flipped). Há um destaque grande para escolas que introduzem tablets na sala de aula, que descobrem aplicativos em todas as áreas de conhecimento e para cada faixa etária.
Há um predomínio na divulgação de notícias e pesquisas de um certo encantamento tecnológico. As expectativas são muito positivas de que, finalmente, a educação está sendo profundamente modificada com a massificação das tecnologias móveis nas mãos de professores e alunos, com a facilidade de disponibilizar vídeos sobre qualquer conteúdo, com atividades baseadas em jogos, com recursos de aprendizagem abertos (REA), com o blended learning ou aprendizagem semipresencial, plataformas adaptativas que se adaptam ao ritmo e estilo cognitivo de cada aluno.
Este momento me lembra o de 25 anos atrás, quando, no começo da Internet, participei do projeto pioneiro Escola do Futuro da USP. As pesquisas apontavam que com as novas tecnologias a escola iria mudar rapidamente no ano 2000, que cada aluno aprenderia no seu próprio ritmo, que os alunos desenvolveriam projetos com colegas de outros países, que a aprendizagem seria em qualquer lugar, a qualquer hora e de muitas formas. Realmente estas ideias são mais aceitas hoje, mas, quando olhamos para a maioria das escolas, ainda estamos muito distantes do que prevíamos. Em muitas escolas públicas ainda se fala em instalação de laboratórios de informática, na época da mobilidade. Predomina ainda a visão tradicional de currículo, de ensino, de avaliação.
O desafio fundamental da escola não é tecnológico – embora haja imensas carências na banda larga e recursos digitais – mas o de ser relevante, importante e de qualidade para que todos aprendam a compreender este mundo muito mais complexo atual, a serem criativos, a fazer escolhas realizadoras em todos os campos, ao longo da vida. Infelizmente, pesquisa recente da ONG Ação Educativa mostrou em 2012 que 74% dos brasileiros não são plenamente alfabetizados, não têm o domínio pleno da língua, da escrita e da matemática.
Mesmo que esses números pudessem ser questionados por alguns como exagerados, não podemos fugir da triste constatação de que, apesar de muitos avanços, não estamos conseguindo, na educação formal e aberta, preparar a maior parte dos alunos de forma adequada para serem protagonistas das suas vidas. Também constatamos de que é urgente ampliar as mudanças na forma como organizamos os processos de aprendizagem: menos focados na transmissão de conteúdos, mais centrados em desafios reais, nos alunos, com apoio de todos os recursos possíveis, entre eles as tecnologia móveis. É um processo constante, longo e complexo, mas inevitável.
Dar acesso às tecnologias é um passo fundamental para que o aluno tenha condições mínimas de aprender num mundo conectado, onde há inúmeras oportunidades de aprender também fora da escola, com milhares de cursos gratuitos online entre tantas outras possibilidades. Desse ponto de vista o acesso é um direito social fundamental e não só uma questão de opção pedagógica.
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