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Assunto que neste início de ano ganhou visibilidade a partir das redes sociais e alcançou ainda mais notoriedade ao se expandir para os meios de comunicação de massa, os rolezinhos são encontros promovidos por jovens da periferia, a maioria pertencente à chamada “classe C”, que se reúnem nos shoppings elitizados para mostrar ostentação por meio do consumo de roupas, tênis e bonés de grife. Esse fenômeno não ativista, no Brasil, vem somar-se à militância de outros grupos, mas de ideias antagônicas, como por exemplo, o Black Block.

O contemporâneo sociólogo francês, Michel Maffesoli, conceituou o rolezinho como tribos urbanas, cada vez mais manifesto na sociedade graças à visibilidade oferecida pela internet. No ano passado, em entrevista ao O Globo, o pensador francês classificou o atual momento das manifestações como um “tsunami das tribos urbanas”.

Para abordar o assunto junto aos estudantes, em 2012 a Casa Publicadora Brasileira lançou o paradidático Tribos urbanas – O que você vai fazer? A obra é voltada para o público infanto-juvenil. O autor é o argentino Pablo Daniel Ostuni, 41 anos, formado em Teologia e Língua Espanhola; lecionou em várias escolas em seu país, o que contribui para a prática em lidar com o público jovem.

O escritor trabalha há quase uma década como editor de livros e materiais impressos na Asociación Casa Editora Sudamenricana (Aces), na qual exerce a função de coordenador de livros didáticos. Além de ter trabalhado com autores de mais de 50 livros, tem publicado artigos em periódicos. Também é palestrante sobre diversos temas de interesse juvenil em seminários, congressos e encontros para jovens.

Pablo gosta de escrever sobre temas atuais e que possam ser úteis aos jovens leitores. “Vários estudantes e amigos têm me perguntado sobre esse fenômeno das tribos urbanas, por isso decidi fazer uma pesquisa.” O escritor consultou uma rica bibliografia sobre o assunto e entrevistou mais de 50 adolescentes e jovens. Acompanhe a seguir a entrevista concedida à revista CPB Educacional.


O fato do querer pertencer a uma tribo urbana é novo? Quais as principais diferenças que se observam na sociedade atual?

As tribos urbanas são um fenômeno social característico das grandes cidades. Desde que existem grandes concentrações de pessoas, sempre existiram tribos urbanas, porque as subculturas presentes na sociedade lutam pela sua identidade em meio a essas grandes aglomerações. As diferenças entre as tribos urbanas atuais e as subculturas do passado estão sempre em nível material e compreensível (formas de vestir, música, linguagem, etc.), mas elas basicamente se orientam pelas mesmas filosofias e cosmovisões.

O que caracteriza esse fenômeno social?
Toda tribo urbana cultiva uma imagem peculiar, uma linguagem diferente, um lugar de encontro (virtual ou físico) e, acima de tudo, uma filosofia ou visão de mundo que serve como base de sua identidade.

O que rege o comportamento das tribos urbanas?
É a filosofia por detrás de cada tribo que determina que seus membros atuem de uma maneira e não de outra. A conduta de um membro da tribo não deve ir contra a essa filosofia ou cosmovisão, caso contrário será rechaçado por seus pares.

Quais os principais motivos que levam um jovem a procurar uma tribo urbana?
Os jovens e adolescentes estão construindo sua identidade em uma sociedade difícil, sem modelos claros de liderança, de família, de autoridade e de amor. Portanto, é natural que eles sintam atração por seus pares, que estão na mesma busca de identidade. Lamentavelmente, muitos líderes das tribos urbanas sabem que podem moldar facilmente o caráter dos membros do grupo e, às vezes, tentam manipular ou pressionar seus pares para fins egoístas.

O que leva uma tribo a estar em evidência em relação a outras?
Uma tribo urbana luta por seu espaço, por sua imagem, por sua música, por sua linguagem; em suma, quer impor a sua ideologia e suas conquistas na mente do jovem. Infelizmente, às vezes cai na violência ou no despotismo para alcançar o que almeja. Algumas tribos se destacam mais do que outras em termos de modo de vestir ou falar, mas todas elas têm um denominador comum: são grupos sociais em busca de identidade e espaço. Distinguir-se é separar-se do outro.

Como a mídia em geral pode contribuir para esse fenômeno?
Os meios de comunicação, em especial a internet, com as redes sociais, são o campo ou caminho pelo qual os diferentes discursos de tribos urbanas se cruzam. O fato de existirem membros de tribos urbanas em cidades afastadas dos grandes centros mostra o impacto dos meios de comunicação na divulgação de ideologias das tribos.

Quais os reflexos sociais das tribos urbanas?
Um dos problemas que podem gerar as tribos urbanas é a de escravidão ou subjugação de seus membros, a alienação que podem sofrer os que se deixam levar pelo que os outros dizem. Os adolescentes são bons termômetros de como está a sociedade. Eles refletem os problemas dos adultos em sua forma de relacionar-se com seus pares. As sociedades atual e futura dependem de como educamos os nossos filhos. Pais que não cumprem seus papéis corretamente, causarão instabilidade emocional nas crianças e nos adolescentes, que procurarão nas tribos urbanas o que não têm encontrado em sua casa.

Como a família e a escola devem lidar com esse fenômeno?
As famílias devem estreitar seus laços de amor e comunicação entre os jovens e os adultos. Os professores devem falar sobre o tema dentro e fora da sala de aula. Os adolescentes necessitam que os adultos os escutem e respeitem as suas ideias. Isso não significa que os pais devem ceder sua autoridade sobre os filhos ou os professores sobre os alunos, simplesmente se trata de aprofundar os canais de diálogo para poder observar o ponto de vista do fenômeno das tribos urbanas e prevenir que nossos queridos sejam influenciados a seguir um caminho que os leve para longe de Deus e da família.

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Fonte: Revista CPB Educacional – 1º semestre 2014.