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As tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) caracterizam uma realidade e participam de alguma maneira da vida cotidiana de alunos, professores e da escola como um todo. Não é possível ignorar os desafios que essa realidade nos traz, mas sim estabelecer um diálogo com ela, buscando compreendê-la para a tomada de posições conscientes.

Não é interessante a professores e alunos apenas aprender a usar os meios tecnológicos, mas pensar em usá-los na educação por meio da reflexão coletiva que consequentemente embasará posicionamentos, iniciativas, novos percursos, enfim, resignificará suas ações. Um ponto de partida é a formação dos principais sujeitos que conduzirão ou operacionalizarão esse processo no contexto escolar, ou seja, os professores.

Visando a uma capacitação para o melhor uso das ferramentas do portal <cpbedu.me>, foram oferecidas aos professores do colégio oficinas para o letramento digital. A primeira foi sobre a postagem de vídeos no YouTube, ensinando-os a direcionar o vídeo para seu domínio na página <cpbedu.me> e demais redes sociais, depois disponibilizar o link para os alunos assistirem e marcar como uma opção de avaliação sistêmica.

Outra oficina tecnológica oferecida foi a respeito da elaboração de avaliações utilizando o Socrative. Nela aprendemos que é possível importar questões do SuperPro, disponíveis no Portal. Importamos questões de todas as disciplinas e depois as reelaboramos em diversos formatos: múltipla escolha, verdadeiro ou falso, resposta curta, questionário, jogo nave espacial, etc. Depois disponibilizamos o link na página da CPB, no formato desafio. Um dos desafios frequentes, por exemplo, era encontrar no domínio do professor a avaliação no Socrative e responder até o horário determinado por quem havia ministrado a oficina.

 

Socrative é uma plataforma de elaboração de avaliações diversificadas. É gratuita, e está disponível para professores e alunos por meio da web e também via App (AppStore e GooglePlay).

 

Além dessas oficinas, solicitamos que o professor criasse seu blog, postasse nele algumas atividades e as disponibilizasse aos alunos. Nesse estágio, percebemos um clima de integração, pois um professor ajudava o outro respondendo perguntas e dando orientações.

O letramento digital acontece mais rapidamente à medida que os agentes envolvidos se permitem conhecer e promovem mudanças significativas.

Também promovemos uma oficina para ser completada individualmente, que se propôs a ensinar cada professor a encontrar o e-book da sua disciplina, além de outros conteúdos complementares disponíveis, como quiz, apresentações em PowerPoint, videoaulas, artigos, jogos, etc., e alimentar o seu domínio com conteúdos diversos e materiais elaborados por ele mesmo, para que outros possam ter acesso.

Ao longo do tempo, foi possível verificar os desafios que surgiram na formação docente para o uso das TDIC, bem como perceber que os professores têm dificuldades ao se deparar com as novas tecnologias e por vezes se sentem envergonhados em pedir ajuda aos alunos, por medo de mostrar inferioridade porque não dominam o conhecimento tecnológico. Essa realidade é perceptível, pelo contexto histórico em que surgiu a educação, uma vez que na educação tradicional o professor era o único detentor do saber, e isso lhe dava domínio perante os alunos. No novo formato educacional, porém, esse poder que antes estava sobre o domínio do professor foi redistribuído entre os agentes envolvidos na educação.

Nesse contexto, surge a tecnologia. O que se observa, no entanto, é que grande parte das pessoas que trabalha na área educativa, ou que está envolvida com a educação, pertence à geração anterior, época em que as inovações tecnológicas não existiam ou não tinham relevância. Por essa razão, muitos educadores não têm domínio sobre esses recursos. Mesmo cientes dessa limitação, a possibilidade de recorrer à tecnologia surge como uma alternativa para viabilizar o acesso às condições atuais da educação.

Os avanços tecnológicos e os suportes de comunicação possibilitaram formas coletivas de ensino–aprendizagem, por meio de fatores que transcendem a suposta falta de “capacitação”, a exemplo das gerações, da cultura e de aspectos socioeconômicos.

É difícil fazer essa distinção quando se trata de ensino–aprendizagem, pois o professor, à medida que ensina, também interage com os outros. Visto que seu ensino e principalmente sua interação têm significativa influência sobre a personalidade dos seus alunos, ele pode ser chamado de educador.

O papel da escola é o de formar alunos capazes de pensar e que tenham autonomia para tomar decisões. Segundo White, “a verdadeira educação não desconhece o valor dos conhecimentos científicos ou aquisições literárias; mas acima da instrução aprecia a capacidade, acima da capacidade, a bondade, e acima das aquisições intelectuais, o caráter” (WHITE, 2007, p. 225).

A educação entendida como uma maneira de intervenção no contexto, a partir de processos educativos intencionais que desenvolvem bases indispensáveis a um posicionamento crítico, precisa dar condição de o sujeito refletir e situar-se na comunicação constante com o outro, a partir da pesquisa, da capacidade de articulação do conhecimento com a prática dos sujeitos por meio da práxis coletiva, sendo estes responsáveis por suas aprendizagens bem como da aprendizagem dos seus pares.

Aqui se faz presente a ideia de coletivos inteligentes (LÈVY, 1993), que funciona a partir da colaboração e cooperação, nas quais a construção do conhecimento é mediada pelas discussões, reflexões e tomadas de decisões e envolvimento dos sujeitos no processo (VYGOTSKY, 1998).

Esse tipo de educação deve estimular indivíduos a buscar, criar e promover avanços, a fim de resgatar as novas gerações para uma categorização em que de fato aconteça mudança social.

Nesse sentido, os meios tecnológicos não garantem aprendizagens, mas podem potencializar a interação entre professores e alunos, e entre eles e o contexto, construindo uma relação que possibilite realizar variados percursos e aprendizagens pautados na compreensão e no diálogo e também nas habilidades cognitivas que favorecem a construção do conhecimento, mediada por tecnologias.

A posição das TIC na construção da aprendizagem é a de facilitar/mediar a comunicação, a reflexão e a colaboração, a dinâmica entre os sujeitos, incentivando a postura pesquisadora, por meio da troca de ideias e pontos de vista.

Segundo Silva (2006), a dinâmica e as potencialidades da educação tecnológica permitem ao professor superar a prevalência da pedagogia da transmissão. A educação tecnológica e a inclusão digital propõem desdobramentos, arquitetam percursos, criam ocasiões de engendramentos, de agenciamentos, de significações.

Ao agir assim, estimulam os participantes a fazer o mesmo, criando a possibilidade de coprofessorar com seus aprendizes. Essa dinâmica de participações requer do professor uma postura comunicacional diferenciada na sala de aula on-line:

  • disponibilizando múltiplas experimentações e expressões;
  • disponibilizando uma montagem de conexões em rede que permite inúmeras ocorrências;
  • formulando problemas;
  • provocando situações;
  • arquitetando percursos;
  • mobilizando a experiência do conhecimento.

 

Em lugar de guardião da aprendizagem transmitida, o professor propõe a construção do conhecimento disponibilizando um campo de possibilidades, de caminhos que se abrem quando elementos são acionados pelos aprendizes. Ele garante a condição de significações livres e plurais e, sem perder de vista a coerência com sua opção crítica embutida na proposição, coloca-se aberto a ampliações, a modificações proposta pelos aprendizes. Assim, ele cria uma educação relevante e constrói cidadania em um novo tempo.

 

Referências
LEMOS, André; CARDOSO, Cláudio; PALACIOS, Marcos. Uma sala de aula no ciberespaço: reflexões e sugestões a partir de uma experiência de ensino pela internet. Bahia Análise & Dados, v. 9, n. 1, p. 68-76, jul. 1999.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
______. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
RIBEIRO, Marcelle. Pesquisa mostra que apenas dois por cento dos jovens querem ser professores. O Globo, nov. 2011. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/pesquisa-mostra-que-apenas-2-dos-jovens-querem-ser-professores-3234641#ixzz4CzU9GYEK>. Acesso em: 29 jun. 2016.
SILVA, Marcos. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.
______. Educação na cibercultura: o desafio comunicacional do professor presencial e on-line. Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade, n. 20, Salvador, v. 12, n. 20, p. 261271, jul./dez., 2003.
SILVA, Marco. Sala de aula interativa. 4. ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2006.
______. Educación interactiva: enseñanza y aprendizage presencial y online. Barcelona: Gedisa, 2005.
______. Criar e professorar um curso on-line. In: SILVA, Marco (Org.). Educação on-line. São Paulo: Loyola, 2003, p. 51-73.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
WHITE, Ellen G. Educação. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. p 225.
Fonte: Revista CPB Educacional – 2º semestre 2016.
Imagem: Darkovujic / Fotolia