As pessoas perguntam o que fazer com crianças agitadas. Elas querem uma resposta objetiva. Anseiam por um remédio em forma de gotas, comprimido ou injeção para resolver logo o assunto. Querem algo concreto para acabar com o problema.
Causa e efeito
O mundo moderno tem buscado soluções descartáveis, superficiais, sintéticas, feitas em laboratório, seja lá o que for, menos pensar da causa para o efeito. Quando nós, médicos, gastamos tempo numa consulta para explicar as causas do sofrimento do paciente e evitamos oferecer uma rápida consulta seguida de prescrição de medicamentos, alguns pacientes não gostam disso, porque estamos tentando mexer na causa do problema, que pode ser mais complexa do que eles imaginam. Mexer na causa em geral envolve tocar em coisas difíceis de ser abordadas e mudadas no estilo de vida da pessoa. Estilo de vida envolve o que comemos, bebemos, a forma de falar, os pensamentos que nutrimos, como expressamos os sentimentos, hábitos de dormir, a prática ou não de exercícios físicos, etc. Mudar o estilo de vida pode não ser fácil. É mais fácil sair da consulta médica com a receita, ir à farmácia, comprar os remédios e voltar para casa com a ilusão de que eles resolverão tudo.
Perguntas importantes a ser feitas quanto a lidar com criança ou adulto agitado ou hiperativo podem ser: ocorreu nos parentes nas duas últimas gerações dessa pessoa “acelerada”? A maneira de pensar e agir deles pode ter passado geneticamente para ele? Foram (ou são) avô, avó, pai, mãe, pessoas agitadas?
Agitação
Uma pessoa pode ser mais agitada no pensamento do que nos movimentos do corpo. Ou pode ser muito acelerada nos pensamentos, com dificuldade de esperar o outro terminar de falar, atropelando as ideias da outra pessoa. Pode estar com um ouvido na conversa e ao mesmo tempo com três pensamentos diferentes correndo pela mente. Ou pode ser acelerada quanto às atitudes, tendo sempre urgência em ter que fazer algo agora, com dificuldade de ficar quieto, não relaxar o corpo e sempre estar usando os músculos numa tarefa.
Uma pessoa impulsiva em sua forma de pensar, ao ler esse artigo, poderá pensar assim: “Puxa! Pensei que esse médico iria dar o nome do remédio para hiperatividade para eu comprá-lo já! Mas ele tá falando coisas que não entendo bem (ou não quero entender), em vez de falar logo o nome do remédio para pessoas como eu!” Percebe a agitação mental nessa fala? Essa pessoa pode ser a mãe ou o pai de uma criança agitada.
Qual é a diferença entre dificuldade de prestar atenção e hiperatividade? Dificuldade em prestar a atenção inclui: não colocar atenção nos detalhes, a pessoa parece não ouvir quando falam com ela, falha em terminar tarefas, dificuldade em organizar tarefas, evita tarefas que exijam esforço, esquece-se de coisas que precisam ser levadas para a escola ou para casa, distrai-se facilmente, é frequentemente uma pessoa esquecida. Dificuldades com hiperatividade inclui: não conseguir ficar sentado, correr ou subir em coisas quando não deve, não conseguir brincar sossegadamente, falar demais, interromper as pessoas frequentemente, ficar irrequieto ou contorcer-se quando sentado, dar respostas impensadas.
O que fazer
Um primeiro passo para lidar com crianças agitadas é perceber se os cuidadores dela também são agitados na mente, no corpo, ou em ambos. Eles também precisam mudar. Um segundo passo tem que ver com o cérebro. É difícil ou impossível mudar um comportamento ruim, se o cérebro estiver intoxicado. Estudo na Universidade de Southhampton com 153 crianças de três anos de idade e 144 entre 8 e 9 anos de idade mostrou aumento da hiperatividade nas que usavam corantes artificiais junto ou sem o corante de refrigerantes, benzoato de sódio. Eliminando corantes da dieta da criança, a hiperatividade diminuiu e voltou a aumentar, usando-os de novo. Os corantes do estudo foram: amarelo crepúsculo (E110); amarelo quinolínico (E104); carmoisina (E122); vermelho alura (E129); tartazina (E102) e ponceau 4R (E124). Dar à criança alimentação natural, vegetariana, permite ao cérebro funcionar bem.
O pediatra Dr. Sérgio Spalter diz que crianças precisam se sentir seguras, confiantes e acolhidas. Mas, em vários momentos da vida, não damos isso para elas, por causa de brigas do casal, nascimento de um irmão, ocupações, etc. A criança sente falta de aconchego, não sabe lidar com isso racionalmente, daí tende a manifestar essa falta com agitação, rebeldia ou adoece fisicamente sem causa, etc. Diante desse comportamento, os pais ficam nervosos e ainda mais estressados. Isso causa irritação na criança e assim o ciclo vicioso se completa.
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