Muitos de nós escrevemos em código quando éramos crianças. Quando adolescente, consigo me lembrar de que a maioria das meninas contava seus segredos em uma agenda, como se fosse um diário. Porém, para que esse não ficasse exposto a qualquer um que a encontrasse, inventávamos nossos próprios códigos. Os amigos íntimos dominavam um código em comum. O círculo externo – os colegas – ficava alheio a esse código e excluídos de nossos segredos.
Alfabetizar é um processo parecido – é tornar as crianças iniciadas em um código utilizado em sociedade: a escrita alfabética de nossa língua materna. Até sua alfabetização, a criança fica alheia a mensagens que só podem ser decifradas pelos “privilegiados” já iniciados nessa sociedade, os alfabetizados – são as notícias do jornal, os letreiros e outdoors, o livro, os bilhetes e recados… Ao apropriar-se da leitura e da escrita, a criança passa a ter acesso a essas mensagens e a ter a possibilidade de produzi-las também.
Entretanto, a apropriação desse código não é tão simples. Ela exige uma série de processos cognitivos dos quais a maioria sequer tem consciência: reconhecimento dos sinais gráficos (letras), seguir a leitura no sentido correto, identificação do som de cada símbolo, reunião dos sons encontrados e reconhecimento de que esse conjunto possui um significado, expressa uma ideia. Como se não bastasse, cada conjunto ainda é combinado com outros, formando frases e textos. Em suma: ler exige que os diferentes componentes linguísticos – léxicos (vocabulário), fonológicos (sons), sintáticos (formação de frases de acordo com regras), semânticos (significado das palavras) e pragmáticos (interpretação do ouvinte e intenção do falante) – sejam dominados pelo aluno. O processo inverso, o de transformar ideias em escrita, acrescenta o desafio de encontrar as letras apropriadas à representação dos sons. Para nós, é automático. Para a criança, um tremendo desafio!
Mas se isso já é complicado, embora com o tempo se torne natural, existe ainda um fator agravante: a criança descobre que esse código não possui uma única forma, mas uma forma comum à imprensa, utilizada muitas vezes em anúncios, manchetes de jornais, outdoors e outros meios de comunicação, e uma forma manuscrita, ou cursiva, utilizada pela maioria das pessoas para escrever. Instala-se nesse momento uma grande confusão.
Se existe essa variação no próprio código, o que a escola deve fazer? Alfabetizar utilizando ambos ou apenas um? Caso opte por ensinar um, qual é o mais apropriado?
A maioria dos teóricos em alfabetização tem sido categórica ao afirmar que a melhor letra para o período de alfabetização é a letra no estilo CAIXA-ALTA, também chamada de bastão, e isso acontece por algumas razões expostas a seguir:
[cpb_learn_more caption=”A letra CAIXA-ALTA permite o rápido acesso a mensagens veiculadas na sociedade”] A criança em fase de alfabetização sente um imenso prazer quando sai da escola e, após ter estudado a letra A, começa a enxergá-la, de forma quase mágica, nas placas de trânsito, outdoors e letreiros. O mesmo processo acontece com todas as letras. Ela começa a enxergar as letras de seu nome em todos os anúncios e manchetes de jornal. Começa a se interessar por aqueles escritos por identificar neles os símbolos que descobriu e procura decifrá-los. Por sua grande veiculação social, a letra tipo CAIXA-ALTA se mostra eficaz na motivação das crianças para a aprendizagem e para a compreensão da função social da escrita.[/cpb_learn_more]
[cpb_learn_more caption=”A letra CAIXA-ALTA facilita a discriminação dos sinais gráficos”] Palavras escritas com esse tipo de fonte apresentam as letras totalmente separadas, facilitando a identificação por parte da criança e o reconhecimento dos sons que compõem a palavra. A letra cursiva, por sua vez, apresenta muitas curvas e emendas, o que dificulta esse processo.[/cpb_learn_more]
[cpb_learn_more caption=”A letra CAIXA-ALTA é menos variável”] Embora os impressos possam conter fontes de diferentes tipos, as características de cada letra permanecem muito parecidas. O mesmo não acontece com a letra cursiva, que carrega as marcas de personalidade das pessoas, variando em proporção, inclinação e legibilidade.[/cpb_learn_more]
[cpb_learn_more caption=”A letra CAIXA-ALTA exige um desenvolvimento motor menos desenvolvido”] A letra cursiva exige que as crianças tenham sua praxia fina (coordenação motora) bem desenvolvida, o que não acontece com todas as crianças em fase de alfabetização. Por isso, nesse período, as energias e esforços devem ser concentrados na decifração, compreensão e codificação, no caso da escrita, e não na tensão desnecessária de ter de fazer um traçado mais difícil.[/cpb_learn_more]
Apenas depois de consolidado o processo de alfabetização é que se deve introduzir a escrita cursiva (no segundo bimestre ou até semestre do segundo ano escolar). Até esse momento, a ênfase apropriada encontra-se na compreensão e apropriação do sistema de escrita.
Tudo isso é verdade em todos os aspectos mencionado na matéria acima. É preciso que os professores principalmente nesta fase se conscientize e se preocupe com compreensão, a identificação da letras para depois se preocupar com a letra cursiva.
Parabéns! Sou professora da pré escola. Amo o que faço. A escola Adventista é minha paixão. Já fui funcionária desta instituição. Amei!!!
Me convenceu
Excelente matéria e gostaria de acrescentar que de acordo com meu estudo e especialização se faz Importante cuidar também do desenvolvimento motor, pois este tem forma adequada para acontecer de acordo com a faixa etária e o crescimento das crianças para que na hora da escrita esse pequeno não sofra dor ou construa uma caligrafia inadequada para ser decifrada.
Já introduzo a cursiva desde o grupo 5, e até agora nenhuma das minhas crianças sentiram dificuldades em traça-las, pelo contrário, a facilidade foi geral, e assim tem acontecido desde que atuo na escola há 10 anos. Elas reconhecem as duas formas, identificam sem problemas. Não vejo dificuldades em introduzir a letra cursiva, elas ainda buscam na escrita a sua personalidade, comparando-as com as dos colegas, pois onde leciono nos preocupamos com a individualidade pessoal de cada criança, e elas fazem questão de escrever com a cursiva. Enfatizo que os alunos com 5 anos já saem lendo palavras de duas, três e até 4 sílabas, construindo pequenas frases. Acho que depende muito do que o grupo nos mostra e o que o professor pode aproveitar do conhecimento existente no grupo e em cada criança. Não vejo nenhum tipo de sofrimento e muito menos dor, em relação ao uso da cursiva.
Concordo, sou alfabetizadora há 28 anos e quando iniciei trabalhava as duas formas e não era sofrido, era um trâmite normal, hoje com tantas exigências introduzo a letra bastão maiúscula, mas percebo que a passagem para letra cursiva tem que ser bem elaborada, para o trabalho não se perder.
Concordo, e sou contra iniciar o uso da escrita com letra bastao devido a dificuldad futura em tentar introduzir depois a cursiva.
Discordo totalmente. O aluno deve aprender as duas dando maior ênfase à cursiva. Desculpas de que livros, computadores… Usam a bastão é um pretexto para justificar a não capacidade do aluno deste século conseguir decifrar ou mesmo produzir em código cursivo. Trabalho com ensino fundamental I e II e, indiscutivelmente, os alunos que dominam somente a letra bastão são, em sua maioria, apenas copistas. Estes mal sabem ler o que escreveu e são analfabetos para a cursiva. Ou seja, estão bem atrás em leitura e escrita em relação aos alunos que estão dominando ou já dominaram a letra cursiva. Ao perceberem a incapacidade dos alunos, do século XXI, de serem devidamente alfabetizados, por fatores que vão além dos muros escolares, alguém decidiu defender está ideia pobre, sem fundamentos, para querer ganhar fama. A maioria dos alunos com letra bastão está em aulas de reforço. Ensino fundamental I deveria priorizar o ensino da letra bastão através da cursiva. Não ensinar, de cara, o aluno copiando com letra bastão. Ele tem que aprender a reconhecer os símbolos. O aluno “cursivo” reconhece e reproduz os dois símbolos, tanto na leitura quanto na escrita. O aluno “bastão” mal reconhece e reproduz os dois símbolos tanto na leitura quanto na escrita. É isso!
Estranho professor! Sou alfabetizadora, amo alfabetizar, ja alfabetizei pelo método tradicional, silabico e também seguindo as concepções construtivistas, de Emília Ferreiro, que tratam, dentre outros aspectos da alfabetização, do tipo de letra a ser utilizada durante o primeiro ciclo de alfabetizaçao. Confesso que percebi resultados muito melhores e em menos tempo quando alfabetizei só com a letra de imprensa. Primeiro trabalho a questão da motricidade e a familiarização das crianças com o mundo escrito, depois vem a escrita em si, o traçado das letras, todas de uma vez só, a sonoridade de cada uma e logo o texto, quando as crianças juntando os sons que aprenderam, já saem lendo. Faço isso sempre de maneira muito ludica, com jogos e brincadeiras. Depois da leitura ja logo vem a escrita autónoma, ondem escrevem desde pequenos recados até histórias. Eu me encanto com esse progresso visível dos pequenos. E quanto ao tipo de letra, se a função da escrita é comunicar, é necessário que nós alfabetizadores nos preocupemos tanto com o traçado da letra? Sendo assim, para que fazer nosso aluno sofrer tanto com as dezenas de curvinhas da cursiva? E onde se utiliza a cursiva hoje em dia além do tradicional quadro de giz e caderno? A cursiva é apenas um modelo de fonte, se o computador e mesmo no dia a dia nos deparamos com centenas de tipo de fontes, então teremos que fazer nosso aluno aprender fazer o traçado de todas… ja não basta que ele leia e transmita sua mensagem da forma mais rápida e fácil? Eu acho que as dificuldades dos seus alunos e até o fracasso escolar como o senhor cita não tem nada a ver com tipo de letra da alfabetização… isso sim é desculpa..,
Concordo com você Maria Cristina Fachin. Temos que trabalhar com a educação infantil para entendermos bem esse processo da escrita.
Concordo plenamente com o texto. Deve se iniciar a alfabetização com letra de forma. E ensegiuda introduzir a cursiva.
Concordo. O importante é estar alfabetizado, ou seja, lendo, escrevendo, interpretando e fazendo inferências sobre o que se lê. A letra cursiva é uma exigência da escola e não social. Quando vamos preencher uma ficha o que se pede é: preencha com letra legível. Sou professora alfabetizora, e a melhor letra para iniciar o processo de alfabetizaçao é a letra de imprensa caixa alta.
A matéria está muito bem elaborada. Séries iniciais, então, infantil 5 e primeiro ano bastão. E a partir do segundo, letra cursiva. Entendendo a passagem como processual. Muitos alunos chegam ao quinto ano escrevendo seus nomes com letras minúsculas, isso se dá por falta de um bom trabalho com a cursiva. A letra bastão minúscula, é muito usada em tipografias, jornais e revista, mas pouca grafada na escola. A criança precisa ter contato direto com diversos tipos de letras, para que essa exerça sua funçao social, que é transmitir algo. Lembramos ainda que maiúsculas e minúsculas se diferem não apenas por tamanho mas tambem por forma.
O que está ocorrendo hoje em dia eh que as criancas apos aprender a escrever com letra bastao nao aderem mais para a cursiva ou passam a mesclar cursiva com bastao, por isso minha filha de 5 anos aprendeu a escrever com letra cursiva, e nao tem dificuldade em ler com letra de imprensa.
Não sou alfabetizadora, nem pedagoga. Sou especialista em História e tenho observado que a cada ano o número de crianças e adolescentes que recebo e que apresentam dificuldades na leitura, na escrita e na produção espontânea de textos tem aumentado de forma alarmante. Como já disse, não sou alfabetizadora e entro em pânico, porque não sei o que fazer nessa situação onde, penso eu, esse estudante deveria dominar com alguma facilidade certas situações básicas da língua. Estou equivocada? De minha parte, tenho feito adaptações quase milagrosas nos conteúdos, no vocabulário, nas atividades, para contemplar a maior parte dos alunos, mas confesso, estou confusa.
Essa dificuldade que encontras nessas crianças não estão relacionadas a escrita, e sim a falta de acompanhamento por conta dos pais que por ns motivos não podem fazer o acompanhamento adequado aos seus filhos. Criança precisa da família apoiando-a e colaborando com a escola. visto que, as crianças não passam o dia inteiro na instituição educacional. Dificuldades na escrita podem estar relacionadas a corporeidade que não foi estimulada na criança; noções de espaço e lateralidade que vão localiza-las no espaço, tendo uma visão macro (Coordenação motora grossa) até chegar na micro (coordenação motora fina)
Minha filha de 5 anos esta no jardim 3 e na escola adotaram esse método de letramento bastão, mais fácil aprendizagem sim é, mas quanto a escrita, a assinatura para o resto da vida, o que fazemos? Agora no termino do 2° semestre, eles tentam introduzir a escrita cursiva, minha filha chora, pois não consegue e ainda acham que as crianças de 5/6 anos precisam fazer a escrita correta com todas as voltas perfeitas da letra cursiva! Acho muito mais complicado introduzir em primeiro lugar a letra bastão, muito mais fácil apresentar as duas. Dando preferencia a cursiva que é como escrevemos normalmente.
Maravilhoso artigo! Ajudou e muito quando for apresentar o assunto em questão aos país. Trabalho desta forma a mais de 20 anos e quando terminam o segundo ano estão grafando corretamente a letra cursiva. Também tenho a postura de não impedir as crianças que apresentam facilidade e desejam a letra cursiva por já saberem ler. É um trabalho prazeroso, porém exige muito do professor flexibilidade em planejar tendo como desafio o ritmo de cada aluno, assim como é prazeroso para uns, para outros pode ser frustante forçar a escrita com letra cursiva. Sou professora do primeiro ano, mas já trabalhei com o segundo também.
Sempre digo a escrita tem que ser legível e com sentido.