Escolha uma Página

A escola que pretende formar o aluno para a vida tem como uma de suas principais funções muni-lo das ferramentas e características necessárias a sua vivência construtiva em sociedade e a uma participação colaborativa e contributiva para o meio que o cerca. Em outras palavras, promover a socialização.

Essa vivência social construtiva só é possível mediante o cumprimento de regras e, por isso, toda sociedade tem leis e códigos que regulam a interação entre as pessoas, estabelecendo direitos e deveres. Se é função da escola promover a socialização, é necessário, então, preparar o aluno para respeitar seus pares, cumprir seus deveres e trabalhar pelo bem de todos – em suma, cumprir as regras.

Percebe-se, portanto, que a definição das regras na escola é uma questão muito mais profunda que a simples organização do cotidiano escolar – é uma questão de formação pessoal. Como a primeira semana de aulas é um período propício ao estabelecimento de regras, alguns princípios importantes precisam ser ressaltados. Existem duas formas distintas de estabelecer regras: a imposição e a construção. A última, baseada na conscientização, costuma apresentar resultados mais eficazes, principalmente do ponto de vista educacional. Longe de ser um pressuposto construtivista, o envolvimento do aluno na elaboração de regras é um princípio da educação integral:

“As regras que governam a sala de aulas devem o quanto possível representar a voz da escola. Todo princípio nelas envolvido deve ser posto diante do estudante de tal maneira que ele possa convencer-se de sua justiça. Assim ele sentirá a responsabilidade de fazer com que as regras que ele próprio ajudou a formular sejam obedecidas” (White, p. 290).

O processo de elaboração de regras em grupo precisa ser diferente, de acordo com a faixa etária da criança. Crianças pequenas conseguem elaborar regras quando têm a oportunidade de, diante de uma situação, identificar comportamentos que causam emoções desagradáveis ao grupo. Essas situações podem ser reais, ocorridas na sala, ou apresentadas através de recursos diversos: histórias, desenhos, teatro de fantoches, etc. É importante, após a história, discutir as atitudes apropriadas e não apropriadas – a base para as regras da sala de aula. Elas devem ser ilustradas e mantidas na parede, de forma visível a todos.

Crianças maiores, que possuem mais tempo de vivência em grupo e, portanto, já conhecem as situações desagradáveis ocorridas anteriormente, possuem bagagem suficiente para iniciar uma discussão e estabelecer as regras sem a necessidade de tantas atividades introdutórias.

Outro ponto interessante a ressaltar é o tipo de regras: crianças menores precisam de regras concretas (não bater, levantar a mão antes de falar, não sair sem permissão, não jogar lixo no chão…). Crianças maiores já podem ter regras mais abstratas como, por exemplo, respeitar a integridade física e emocional dos colegas – através desse parâmetro mais amplo, podem ser aferidos diversos comportamentos, desde empurrar um colega durante a fila até zombar de uma resposta equivocada que ele tenha dado. É importante ensinar os alunos a comparar seu comportamento com os parâmetros estabelecidos e avaliar se a atitude foi apropriada. Essa avaliação baseada na comparação de uma regra abstrata ajuda, inclusive, a ativar formas superiores de pensamento e de juízo moral.

O momento do estabelecimento de regras pode ser lúdico, envolvente e, dessa forma, propiciar a reflexão. Seguem algumas ideias interessantes:

[cpb_learn_more caption=”1. O bolo da convivência”]Iniciar o ano fazendo um bolo com os alunos. Primeiro escrever a receita em um papel grande e fazer o passo a passo, depois de pronto, refletir sobre a importância de cada ingrediente e a falta que cada um deles faria, caso não tivesse sido utilizado. Aplicar a discussão à situação de sala de aula, pois para que a convivência seja agradável alguns ingredientes não podem faltar: respeito, tolerância, cooperação, responsabilidade, etc. A partir dessa reflexão abstrata, fazer a receita de sucesso da classe (as regras).[/cpb_learn_more]

[cpb_learn_more caption=”2. Fantoches”]Com crianças menores, que ainda não trabalham com conceitos abstratos e têm dificuldade em admitir seus próprios erros, o trabalho com fantoches é muito interessante. Um texto curto, mas bem elaborado, mostrando as situações mais comuns da sala de aula (interromper a fala do outro, agressão, falta de cuidado com o ambiente da sala, utilização inapropriada do material do colega, etc.) faz com que a criança reflita sobre os comportamentos, muitas vezes praticado por ela, mas que nesse momento foram projetados em outra personagem. Depois da discussão, as regras devem ser ilustradas (no caso das crianças menores) e colocadas em lugar visível.[/cpb_learn_more]

[cpb_learn_more caption=”3. Projeção de livros”]Há alguns livros, escritos e ilustrados de forma bastante divertida, que tratam de regras de convivência. O professor pode projetar e ler o livro com os alunos na íntegra (ou apenas alguns trechos selecionados), provendo base para a elaboração das regras da sala. A literatura infantil referente ao tema pode ser explorada não só nesse momento, mas durante toda a primeira semana.[/cpb_learn_more]

[cpb_learn_more caption=”4. Brincadeiras”]A criatividade pode transformar o momento de estabelecimento de regras em uma grande brincadeira. Uma sugestão interessante é escrever ou ilustrar, antecipadamente, algumas atitudes (positivas e negativas) do cotidiano escolar. O papel que representa cada situação pode ser dobrado e colocado dentro de uma bexiga. Durante a aula, o aluno estoura a bexiga e tira de dentro a atitude. Ele e os colegas avaliarão o comportamento e emitirão um juízo sobre ele. Com essas informações, farão um mural de duas colunas (que pode ser feito em EVA ou outro material), de um lado mencionar as atitudes positivas, aprovadas pela turma, e que devem ser praticadas por todos; do outro lado, as atitudes negativas, reprovadas pela turma e que devem ser evitadas por todos.[/cpb_learn_more]

[cpb_learn_more caption=”5. Árvore das atitudes “]Uma árvore de EVA ou outro material, que pode ser feita pelo professor ou adquirida pronta, pode levar à reflexão sobre o comportamento. É só fazer várias frutinhas (maçãs ou laranjas, por exemplo) e escrever ou ilustrar, na parte de trás, atitudes positivas ou negativas. Fixar as frutas na árvore utilizando fita adesiva. No momento de estabelecimento de regras, cada aluno colhe uma fruta e a atitude que está representada atrás é discutida pelo grupo. Com base nessa avaliação, as frutas são separadas em duas cestas – a dos bons frutos e a dos maus frutos. Utilizar a discussão para elaborar as regras da sala.[/cpb_learn_more]

 

Com criatividade, é possível impressionar a mente das crianças para a importância do cumprimento das regras, mas lembre-se: o monitoramento é extremamente importante, principalmente nas primeiras semanas. Atitudes inapropriadas não devem ser ignoradas, ou o senso de justiça das crianças pode ser comprometido.
Segundo White,

“As regras devem ser poucas e bem formuladas, e uma vez feitas, cumpre que sejam executadas. Tudo que é impossível de ser mudado a mente aprende a reconhecer e a isso adaptar-se. Mas a possibilidade de condescendência suscita o desejo, esperança e incerteza, e os resultados são a irritabilidade, inquietação e insubordinação” (p. 290).

Ou seja, regra elaborada, é regra que deve ser cumprida. Porém, ainda mais importante que monitorar as atitudes inadequadas, é valorizar o bom comportamento e reconhecê-lo publicamente. Mostre que espera o melhor e o mais nobre das crianças, e elas tentarão corresponder à sua expectativa.

 

 

Referência:
White, Ellen. Educação. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008.